sábado, 20 de abril de 2024

Azulejos


Eu fecho os olhos e ainda vejo os azulejos.
Eu suportei o peso da morte o melhor que pude
Em meio aos corredores dos hospitais
E da bile acumulada ante à indiferença de enfermeiras.
A respiração agônica prenuncia o fim.

Nada que eu fizesse seria o bastante.
O carcinoma de pequenas células
Faz com que o tempo seja medido
em probabilidades duras ao invés de suaves anos,
Mas ainda assim eu senti o peso do fracasso
Ao velar seu corpo frágil e não adornado
Às 3 da manhã na Casa de Portugal.

O relógio desfiou os dias
Desbastando a esperança
E desnudando o inevitável.

Pensei que poderia ser Atlas
Suportando o peso da dor de outros
Para que algo entre os destroços
Pudesse se curar,
Mas eu me quebrei
E não havia mais ninguém ali
Para testemunhar os meus danos.
Eu fecho os olhos e ainda vejo os azulejos do hospital.

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