segunda-feira, 22 de abril de 2024

Dioramas de Almas (Indiscrição)

Para não se derrubar as paredes, as portas.
Para não reconstruí-las vez após vez, as chaves.
É reservada somente às janelas
o inglório papel da indiscrição.

Pessoas sentadas em suas camas
atentas apenas ao microcosmo de suas dores.
Podem estar alheias ao mundo,
mas nunca do mundo alheias.

Reconstruir por sinais e signos
a plenitude da persona em sua imensidão.
Pequenos dioramas de almas
talhados pelo olhar casual da observação
(ou então talvez pela lente distorcida
de doentia obsessão).

Preenchemos os espaços vazios
com o que queremos ver,
deixando suspenso no fundo
o tão pouco que verdadeiramente podemos ter.

Construímos mitos usando pequenas intimidades roubadas,
evocando baixo por pessoas
por meio de suas imagens borradas.

Estas janelas são apenas espelhos
nos quais nos vemos nos outros.
Supreendemo-nos então com a familiaridade
em que este universo parece estar envolto
(eis aqui o verdadeiro umbiguismo míope dos tolos).

Não importa a casa ou comôdo onde estiver.
Não se preocupe em fechar suas janelas.
Ninguém no fundo pode saber
como o outro é.

Nenhum comentário:

Postar um comentário