As mãos entrelaçam-se justas
E os olhos abrem-se em espanto.
As pessoas sobre a ponte congregadas
Admiram a beatitude do silêncio
E das luzes acariciando a fria madrugada.
Dedos fecham-se entre o gradil
Para que âmagos pudessem suportar
A intensidade estática do instante
Que pelas bordas ralas do tempo iria ecoar.
As crianças correm sorridentes
Por entre a fina neve, quente e cinza.
De mistério tudo se reveste
Como se o poder de deuses ocultos
Estivesse a lhes tocar.
O horizonte sangra impossíveis cores.
Anjos atônitos evisceram a noite
Para que hostes suplicantes fossem conscritas
A totalidade do que aqui transcorre
Por séculos testemunhar.
Sob a ponte entre Chernobyl e Prypiat,
Percorrem trilhos que conectam
O agora aos campos de heliantos do amanhã
Que aprisionam os radionuclídeos
Que aqui os trouxeram e daqui os iriam ceifar.
O canto dos contadores geiger preenchem a noite vermelha e azulada.
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