With eyes shut tight,
Lost in liquid darkness,
Other worlds unfold in whispers.
I find myself hovering in formless vastness
In the amniotic infinity
Where beginnings dissolve into endings,
And change pulses through me like a tide.
I can feel something in me changing,
The throes of some uneven death.
I am translucent to the woes of disappointment.
I hear notes reverberating further away
Hinting at some long-lost unity.
My hands extend like invisible capillaries.
I can graze my fingertips on the unknowable,
Tracing the azure roots of dreaming,
The forgotten primal movement
From which spring the ethereal foundations
Of all that is significant and real.
We teem with motives and meanings,
Bound by the threads of memory's web.
Yet our voices echo only briefly,
Through the occupied vacuum of space and time.
Our voices will not be carried forever
Through the interstice of our hours,
By the finitude of our laughter.
Surrounded by dim shadows,
I once again tread the narrow path of dawn.
Clear-sighted, with a lighter chest.
All psychopomps must return alone.
An origami of light and shadows.
domingo, 28 de abril de 2024
The Azure Roots of Dreaming
sábado, 27 de abril de 2024
A Raiz Azul dos Sonhos
Com os olhos fechados,
Perdido em escuridão líquida,
Outros mundos em sussurros se descortinam.
Encontro-me pairando em vastidão sem forma
No infinito amniótico
Onde os começos se dissolvem,
Pulsando transformações como marés.
Posso sentir algo em mim mudando,
Os estertores de alguma morte desigual.
Estou translúcido para os dissabores de tudo.
Ouço notas que parecem reverberar mais longe
Sugerindo alguma unidade a muito perdida.
Minhas mãos se estendem como capilares invisíveis.
Posso roçar as pontas dos dedos no incognoscível,
Traçando a raiz azul dos sonhos
No primevo movimento esquecido.
Daqui brotam os etéreos alicerces
De tudo que é significativo
E de tudo que é real.
Estamos prenhes de motivos e sentidos
Apenas enquanto presos nestas teias do lembrar.
Ainda assim nossas vozes ecoam breves
Por entre este vácuo sideral ocupado
Pelo interstício de nossas horas,
Pela finitude de nossos risos.
Sombras difusas rodeiam-me.
Os olhos abrem-se novamente.
Trilho a estreita rota da manhã.
Vistas claras, peito leve.
Todos os psicopompos precisam retornar sozinhos.
Um origami de luz e sombras.
quarta-feira, 24 de abril de 2024
Apenas alguém
Algo perdura apesar dos anos.
Reenceno os mesmos momentos
Como se uma meditação fosse,
Mas foi eu que fechei as portas
E fui eu que voltei-me para o Oeste.
Lembranças e palavras ainda reverberam
Silentes e solenes, rasgando as pretensões.
Algo belo e importante ficou para trás
E por mais que o mundo gire,
Que os meus pés se despeçam,
Que tenha feito sentido partir,
Algo de mim ficou para trás.
Estou disperso no tempo e no espaço.
Não encontro unidade no sentir.
Por mais que as partes façam sentido,
O todo é estranho e alheio sem você.
Eu privei-me do meu lugar
E agora não sei mais aonde estou.
Espero que os anos tenham lhe sido gentis,
Mais do que eu poderia ser.
Não és estrela idealizada,
Nem dista em horizontes impossíveis.
És algo concreto feito abstrato
E agora lembrado com dor.
Apenas um alguém que um dia conheci.
Apenas um alguém que um dia me conheceu.
segunda-feira, 22 de abril de 2024
Tétis
Os alforges finalmente ao chão.
A poeira pode sempre ser varrida
e os cacos ainda podem ser colados.
O possível brota timidamente dos cantos.
Calejadas mãos repousam sobre o leme.
A tempestade se cala lá fora.
Por anos navegando uma rota errada
Usando os mapas e os meios
de algum outro alguém.
O oceano é vasto o suficiente para nele se perder
e o oceano é vasto o suficiente para nele se encontrar.
As ondas não dissuadiram Odisseu.
Vazio Celeste
Uma pluralidade desconexa de pessoas,
Reunidas apenas por uma mesma origem helicoidal.
Sentimo-nos tentados a enaltecer o passado,
ressignificar a inospitalidade do presente,
mas na nua realidade das coisas
houve beleza na mesa posta do café,
nos dedos tão longevamente entrelaçados,
no chá que pontuava as noites.
A horta e as samambaias entreolham-se em silêncio,
Os nossos olhos agora molham os dias.
Albedo
Ambos engolfados pela escuridão,
Ambos indistintos no albedo
que reluta em revelar a luz.
Nos fragmentados arredores
e por desconectados corredores,
aflora o mimetismo incauto
dos espelhos distraídos.
Distorcem a natureza elíptica das coisas.
Eu acredito no nada.
e nas suas convicções estéreis
e nos reduzidos limites do possível.
... mas é a ficção que estrutura a vida,
alinhando trilhos invisíveis em direção ao amanhã.
Ancorado no discernimento,
Um a um os malabares caem ao chão.
Como começar a contar novas estórias
quando todos os nossos livros estão em branco?
Splendor Solis
Desde a plácida Aurora rubra
Até a inquietude Magenta do Ocaso.
Com as costas dadas para o cálido Sol,
Procuro estrelas na escuridão das sombras.
Eu sou a face tímida da Lua
Contemplando a fecundidade sóbria da Noite.
Os deuses sussurram em nossos ouvidos,
mas não é possível os ouvir por entre as palavras.
Érebo
ou meramente as esconde por entre as dobras do seu manto?
Teus braços esticados resvalam nos confins do universo.
Dedos enegrecidos com a tinta das partituras celestiais.
Um artíficie perenemente oculto, mas ainda assim presente.
Agora confinado nas profundezas do Tártaro
e banhado pelas águas do Esquecimento.
Uma Força colossal latente
tão ignota de sua magnitude cósmica.
Tu és o outro lado dos buracos negros,
a matéria escura que encadeia as equações e cânticos.
Ó grande deus adormecido,
Consorte da traiçoeira noite,
Pai verdadeiro do Dia,
De tua amplidão desoladora,
brotam as raízes do possível!
Que o meu silêncio seja a sua palavra.
Dragas
Solstício
delineando nas sombras tênues
os limites imprecisos do possível.
Venha devagar ou rapidamente,
com o anseio lhe estufando o peito,
sabendo que estas ruas estão abertas,
mas sem um algo que lhe indique a direção.
Com os passos apertados,
Com sua cabeça pendente,
Com o peso que lhe é cabido
Sobre os ombros repousado.
Venha cedo ou venha tarde,
mas por favor de alguma forma venha.
Para trazer a luz de um novo dia
e cerrar as cortinas
sobre a noite que existe em mim.
Oração Para os Suicidas
buscando o conforto nas promessas de um novo mundo
e, sem saber o que o outro lado lhe reservava,
foi recebido solenemente pela Escuridão.
Como os antigos navegadores,
procurando novas rotas para as Índias,
você também buscava um caminho
através do qual os seus pesares
não mais lhe pertencessem.
Seu norte já não era verdadeiro.
A dor lhe impulsionou
para muito além da cartografia do conhecido.
Você esteve sozinho em seu momento mais escuro.
Ninguém testemunhou a vastidão de seus oceanos
ou a sufocante altura da sua solidão.
Suas falésias foram esfaceladas pelo tempo,
cinzeladas pela constante repetição dos dias
e, em seus diminutos horizontes,
o único passo possível seria o derradeiro.
O meu coração é tão pesado quanto o seu.
As minhas esparsas preces lhe pertencem.
Aquela velha parede foi pintada de branco.
Nossos nomes, com gesso e telha escritos, foram apagados,
mas eu estou aqui e você não.
Em nossa corrida em direção ao infinito,
eu não esperava o segundo lugar.
A sua ausência não me passa desapercebida.
Que o seu coração seja como a pluma,
Que os seus passos sejam largos,
Que o seu caminho esteja cravejado por estrelas.
A sua jornada ainda não acabou.
Serpente Alada
Escumas do Tempo
Como a madeira trazida pelas águas
E abandonada em areias de alvura impossível.
Estaticamente esperando em arredores mutáveis,
Contemplando uma geografia redefinida pelo invisível
Como o tempo, o vento e a circularidade infindável das marés,
Cinzelando os costões mais altos e belos
Nas regiões mais limítrofes do Real.
Desbastados do infinito por mães gentis.
Renascidos no Indizível pela terceira Parca.
No Princípio havia o Verbo
E no Fim não havia Nada.
O grande vão da vida
Observo atento
as expressões e os gestos
de quem não está mais lá.
Em um jogo de alento
que se esvai por entre restos
de quem eu iria me tornar.
Refuto teorias
com toda a idiossincrasia
dos que resistem a se entregar.
Vejo agora com a clareza
de quem um dia se calou.
Pairei além de incertezas,
fui refeito do pouco que restou.
Eles ergueram paredes
para então as derrubar.
Jogaram suas redes
para somente eu as rasgar.
Lançada a semente
no grande vão da vida,
entrego o meu soldo
e fecho a ferida.
Fui um número em uma fila,
mas hoje sou um homem em um mar.
Passageiro
Para renascer das escumas e escombros
De um velho eu.
Eu me trouxe às bordas do mundo,
Mas não pude transpô-las.
Eu acedi ao afiado fio,
Mas não consegui libertar a carne.
O ponto estático ao centro é o berço do infinito,
Onde perpetuamente reencenamos nossos erros.
Contemplando o Oeste com olhos de adeus,
Renascendo ao Leste com propósito renovado.
Endereço
Fazendo as folhas rufarem mais devagar.
Uma chuva fina cobre os carros.
A luz refletida é débil e torta
Mas perfeita em sua fragilidade.
O cinza recai sobre as superfícies
Tornando rombudas as pontas e quinas
Em que insistimos tanto em colidir.
Os cacos são grandes o bastante para serem colados.
As feridas podem, apesar de tudo, ser curadas.
Nós carregamos o peso do mundo
Pois tememos flutuar pra longe
Sem um algo ou um alguém que nos impeça.
Não nos resta nada,
Só esta rua arborizada que se entende
Do infinito aos nossos pés.
Os carros passam devagar.
Ao fundo um pássaro canta.
O sinal esta verde
E todos te esperam passar
Por esta rua de mão única
Chamada solidão.
Pairando Alto
Unicidade de propósito
Sustenta, por si só, o seu voo.
Asas que jamais retrocedem.
Penas que jamais se apequenam.
Enquanto suas garras
Estraçalham a carne,
Os seus olhos estão voltados
Para seu ninho
Construído em altura extrema
Beirando as bordas do infinito.
Contempla o falcão
A natureza doce de sua presa?
Saudade
Preso na sutil teia de memórias
Reconstruo momentos cotidianos
Agarrando os ecos do passado
Como se estes fossem vida.
Avolumam-se as brumas do lembrar
Intensificada pela quietude dos nascituros.
Nós nos jogamos em direção ao passado
Propulsionados pela dimensão estéril da dor.
Os rios correm ao contrário.
Nosso destino derradeiro é a vida.
Testemunhamos o nascer da inocência em nossos corações pesados.
Sem um adeus, o presente se distancia na janela traseira do carro.
Nós nos revertemos ao centro.
Nos desfazemos para sermos completos.
Nossa existência é uma afronta ao uno e ao indivisível.
Se existimos, existimos sós,
Dentro dos limites torpes e sinuosos
De nossa intransponível solidão
Corpos Imperfeitos
Estranhos atratores.
Um magnetismo falho permeia o nosso meio.
Vetores que se confundem
E que não resultam
Em direcão ou magnitude alguma.
Tudo gira sem aparente nexo
Em um eixo que nos tange e foge
Com simetria e razão disformes.
Da matemática de nossas vidas
Subtrai-se o absoluto e o perfeito.
O Silêncio que Sucede a Música
Efêmeros
Camisas Verdes
Ex Machina
Fragmento de Música Perdida
Muitos Filhos
Lírios Selvagens
Tétis
Trifolium
Alambrados
Fraturas
Intransponível
O Estranho Atrator
Resplendor
Odisséia
Macaé
Oneiroi
Caminho cravejado de estrelas e lágrimas
Onde o Infinito nos toca.
Em espirais, ao centro sempre a orbitar,
Revelando seus doces subterfúgios
Enquanto a manhã não vem nos separar.
Enlace efêmero, tão intoxicante e verdadeiro,
Ao menos para esta alma que se esqueceu
do que havia lhe sido revelado primeiro
Não importa o quanto doa e o quanto ainda dói
Seremos sempre Oneiros de Oneiroi.
Golem
Cerração
Fundações
Celebração
em seu silêncio
sendo sempre
sonhador.
Segue o céu,
sua semente,
sempre certo
de seu esplendor.
Sentimos sempre
sua essência
celebrar
serenamente.
Seu sucessor
a sonhar sua
semente.
Imaginários
e outras coisas pequenas que brilham.
Luzes fracas furam a noite,
adornam as paredes como
pequenas estrelas de estimação.
Uma penumbra plácida me envolve
em um diminuto mundo de livros e fotografias.
Ouço sons que tocam a alma.
Neste santuário protegido,
as janelas se abrem para a vastidão.
Declamo palavras secretas
e errantes sombras se erguem.
Galopo em sua direção.
Ceio uma vez mais
entre velhos amigos.
Brindo-lhes,
estendo-lhes a mão.
Eles conhecem meu nome
e possuem minha afeição.
Despedimo-nos com gestos e símbolos,
pensando nos dias que um dia virão.
O Sol desponta no horizonte
e tudo está bem.
Rompem-se as barreiras eqüidistantes,
um círculo de Mistérios.
Dor,
não existe vida sem.
Paredes Altas
e com os pés toco o chão.
As coisas abstratas,
não mais me guiarão.
Renovada a força,
mas bem perto de ruir.
Esqueço sonhos, luzes foscas,
um novo forte a erigir.
Suas muralhas elevadas
hão de me prender
nas noites delicadas
em que anjos querei ver.
solo fértil, raio fúlgido,
finco mais raízes.
Tão desperto, em mundo lúcido,
abandono diretrizes.
Reentro novo
em terras tristes.
Uma estrada longa,
mas que existe.
Apogeu
Com passos toscos tento prender
a linha que separa a água da areia.
Com Indifereça indelicada,
a colcha de águas serpenteia.
Os pés afundam rápido,
a linha imaginária os volteia.
Se ao menos me arrastasse,
tocaria seios rijos de sereia.
Eu queria apenas fixar o momento
e parir na ausência de movimento
a clareza que me falta.
Dar nomes a todo e cada tormento
e estar para sempre isento
da imprecisão que sobressalta.
Traço grandes linhas na areia
para redefinir a geografia de um Eu.
Olho atento a grande onda que arqueia
destruir meu castelo em meu apogeu.
intruso e ferido persisto.
Onde os elementos se encontram,
serei eu um dia benquisto?
No Silêncio
caminhando por trás de luzes fortes.
O mundo se abriu
como um livro que não possui respostas.
Em cada rosto vi um sorriso ou seu vestígio.
As ruas ficaram largas.
Costas curvadas se fizeram eretas.
Cada coisa encontrou seu lugar
na plenitude de um momento perfeito.
Eu vi o tempo revelar uma sábia face
benfazendo em silêncio,
suturando as dores do mundo.
Meu coração se encheu com música
que ecoa por entre os salões celestiais.
eu estava sozinho,
mas você estava lá.
Tertium Non Datur ( ou O Princípio do Terceiro Excluído )
super-estruturas
e nexos causais,
como máquina bem lubrificada
que prescinde o entendimento.
Preposições se encadeiam
em um jogo de elegante eloquência,
constituindo alicerces,
delineando matematicamente
os contornos de mundos possíveis,
onde a imprecisão é o confortável
esconderijo da mentira.
Revela-se na alternância
dos valores de verdade,
os sinuosos labirintos
dos argumentos capciosos
de um coração.
Por que nesse universo
de silogismos irredutíveis
deus é uma tautologia
e eu uma contradição?
Impermanência
Sumir, Sonhar e Ser
Gritando em Catedrais
Grades de Arame
Em Silêncio
Caminho Descalço
As roupas novas do Imperador
Movimento Imperfeito
Café Pequeno(Para Catharina)
Levanta e faz seu café pequeno,
com os pés descalços
e com as medidas certas
ensinadas por vó.
O pão é dormido
e seu mastigar mais lento.
O horizonte restrito dos seus sonhos possíveis
não tem mais um espaço para mim.
Mais um nome entre outros substituíveis.
Nunca quis olhar de perto o fim.
Meus olhos te seguem pela multidão,
atrasada para chegar a lugar algum.
Uma Alice a procura de um coelho,
encontrou somente um lugar comum.
Dioramas de Almas (Indiscrição)
Para não reconstruí-las vez após vez, as chaves.
É reservada somente às janelas
o inglório papel da indiscrição.
Pessoas sentadas em suas camas
atentas apenas ao microcosmo de suas dores.
Podem estar alheias ao mundo,
mas nunca do mundo alheias.
Reconstruir por sinais e signos
a plenitude da persona em sua imensidão.
Pequenos dioramas de almas
talhados pelo olhar casual da observação
(ou então talvez pela lente distorcida
de doentia obsessão).
Preenchemos os espaços vazios
com o que queremos ver,
deixando suspenso no fundo
o tão pouco que verdadeiramente podemos ter.
Construímos mitos usando pequenas intimidades roubadas,
evocando baixo por pessoas
por meio de suas imagens borradas.
Estas janelas são apenas espelhos
nos quais nos vemos nos outros.
Supreendemo-nos então com a familiaridade
em que este universo parece estar envolto
(eis aqui o verdadeiro umbiguismo míope dos tolos).
Não importa a casa ou comôdo onde estiver.
Não se preocupe em fechar suas janelas.
Ninguém no fundo pode saber
como o outro é.
Não Estando Lá
em que as pontas iriam se juntar.
Inescrutável
mais do que na verdade sabe.
e em sentimentos estranhos.
desta imensidão inescrutável.
Desprovido de sentido,
Orando com o Trovão
O céu se fecha.
Contra as paredes dos penhascos
as ondas martelam com o furor de deuses.
Antes que se pense
que o mundo terminou em trevas,
este céu se risca com brilhantes traços
que purgam a noite de nossas insensatezes.
Como resposta a um clamor oculto
pulsa no céu por um único segundo
as artérias do infinito.
E a luz dá lugar ao vulto
borrando os limites de um mundo
imerso na escuridão e no mito.
Pulou uma batida
o meu coração
ao sentir reverberar no horizonte
o estrondo alto e retumbante
de um poderoso trovão.
Empatia
Tento atravessar a ponte invisível
do mútuo entendimento.
Desequilibro-me ao procurar palavras
enquanto calço as pegadas de outros.
Desoriento-me com este olhar pra dentro
e busco além das palavras fáceis
as bases de um breve,
mas verdadeiro,
co-sentimento.
Afasto então as plumas da vaidade.
Dispo-me de um manto de mentiras.
Cristais vibrando em uma mesma frequência
compartilhando estórias de como se fizeram em pedaços.
As nossas guardas estão baixas.
Eis o ocaso de nossas diferenças.
Oh este andar em círculos
e este desviar de olhos!
Somos todos presas fáceis
para a compreensão alheia.
Incompleta
Como partes soltas que se acumulam nos cantos.
Como as peças que faltam em um quebra cabeça.
Como esquecer a palavra que termina o encanto.
Ergue sua cabeça sobre uma multidão de rostos,
mas jamais encontra aquilo que espera.
Está presa em um sonho de veludo
em meio as mentiras mais sinceras.
Sentado sobre o capô de um carro
contemplo a vastidão dos espaços vazios.
Meu mundo se preenche de sentido.
Queria que sentisse este mesmo arrepio.
Mas sei que suas paredes são mais altas
ao redor de seu sorriso inescrutável.
O mundo te vê como estrela,
fria, distante e inalcançável.
Ouço as batidas graves e repetidas.
Eis a grande marcha e sua inexorabilidade.
De nada adiantaria reabrir estas feridas.
Linhas não perpassam nossa sinuosidade.
Afinal
Parado em meio à totalidade do mundo,
como veios de pedras que singram os montes,
congelo em um momento sepulcral.
Nesta quietude que silencia mistérios,
é possível tornar-se menos humano
e um algo mais atemporal.
Entre um mundo que respira sob estes pés
e um céu que restringe estes sonhos.
Passo as mãos pela grama alta
e encontro na escassez dos espaços abertos
toda a compreensão que me falta.
Era apenas uma arquitetura
de belas irrelevâncias,
quando se olha para o ínicio,
chegando no final.
Panta rhei
meus passos em falso
e minhas primeiras tentativas.
Tudo então se intensifica, se transforma e transita.
Paredes se erguem, represas se rompem,
estranhos me seguem e sonhos se corrompem.
Ausculto meu pulso breve e logo a tudo permeio.
Abdico das dores e destes falsos amores.
Apago contornos para emergir indistinto,
desaguando renovado no recomeço que anseio.
Este é o meu princípio
meus passos em falso
e minhas segundas tentativas.
domingo, 21 de abril de 2024
Incurvatus in Se (Narcisismo)
Nas Beiradas do Mundo
O Fim Dissoluto de Tudo
Sem nada dizer, pois tudo havia sido dito,
as coisas se assentaram em seus lugares
e os pertences foram todos repartidos.
Algo no caminho deve ter se perdido.
Um aperto de mãos e uma última troca de olhares
para descobrir na distância o que nos havia acontecido.
No silêncio incômodo das refeições,
disputávamos sempre quem
terminaria primeiro.
O riso virou silêncio
e a paixão virou censura
em nosso jogo de enumerar os erros.
A estória se desnuda
em nuances que não queremos ver.
Nossas flechas estão rombudas.
Minhas feridas cicatrizam sem você.
Pensei ter te visto dobrar a esquina
em uma de minhas caminhadas.
Sem que tenha percebido, encontrei-me
caminhando em uma outra calçada.
Boaventura
As Mais Nobres Intenções
contando as baldeações do saber.
A estrada nos faz ignorantes
na ritmada canção de nascer, foder, morrer.
São tantos os passos no chão,
e outros tantos ficaram para trás.
Queria rumar na contramão
e nascer sereno onde tudo se desfaz.
Esmagado pela certeza do intuir
que não existe nada mais que isso.
Um universo sem testemunhas
ou outras dimensões.
Somos apenas gloriosos pontos
contemplando o infinito.
Demos ao vazio a alcunha
d'As Nossas Mais Nobres Intenções.
Olhos de Mar
Sempre suspeito dos mesmos defeitos.
Eu não queria me mostrar.
Levo no peito meus planos perfeitos
que não iriam se realizar.
E do alto espreito
vestígios do que se foi.
Quando estive em seu leito
o meu Sol também se pôs.
É algo mais forte do que nós,
ser tragado
por um passado
enterrado
e atroz.
Espelho D'Água
Anéis concêntricos começam a se formar.
Eis que as pétalas da acácia
então começam a se afastar.
Vejo além do turbilhão do centro
a pesada pedra no fundo repousar.
Desmesura quieta em seu retraimento
sob águas que relutam em se acalmar.
Aos poucos tudo se afasta
deixando somente o caos em seu lugar.
Flutuar é uma alegria ingrata
que nos afunda ou nos faz errar.
As águas acariciam os pés do atirador
observando tão incauto e inocente
a calmaria do espelho d'água se recompor.
Mas nada é mais como antes.
Aqui não existe mais aquela flor.
Ponho-me a desfiar velhas mágoas
e relembrar do que Λάχεσις(Lakhesis) prometeu
Não vejo mais o seu rosto nestas águas
e tampouco quero ver o meu.
Que arremesem então mais pedras.
Que se turvem as águas como o breu.
Enlace
Em Catedrais Escuras
tampouco a luz azul filtrada
pela cena estática divinal.
É o erguer de braços para o infinito
e suportar as pedras e os anos,
prevalecer sobre a razão e o animal.
Quando os grilhões lhe tombarem a carne
quem irá lhe testemunhar o final?
Os nomes não se escrevem no livro dias
com o choro, gozo ou sangue,
mas com a angústia do real.
Formaldeído
em formol exposto e protegido.
A clareza do dia lhe recebe
com suas imperfeições e assimetrias.
Uma quietude maior do que jamais lhe dei.
Em suas cercanias vítreas
coroado rei.
Minhas costelas não mais o protegem,
pois eu lhe eternizarei.
Contentamento
e transformar a sua significação
em nada mais que circo, vinho e pão.
Ele irá lhe aliviar as rugas
e abrirá portas e ruas
para muito além dos limites
de sua casa e sua nação.
Ele irá lhe roubar o peso
que alonga as sombras das coisas
e que projeta nuvens escuras
em sua imaginação.
Ele irá derrubar a dor
de seu pedestal de mármore
e tampará os cadafalsos
que lhe levam a solidão.
Você olhará os dias
em que pensou ser algo mais,
mas o martírio auto-imposto
fora apenas um trote,
uma cerimônia de iniciação.
Janus
Reticências
Inexistencial
Pegadas leves,
Eu nunca clamei pela imensidão de grandes amores
ou entreguei-me cego à latitude oblíqua das dores.
Mantive-me sóbrio como uma cerimônia inglesa
após o padecer dos tolos anos,
e nem por isso hoje sou mais são.
Pensei que me encontraria
quando tivesse desemaranhado as linhas,
entre escombros escondida,
Estando em todos os cantos,
não me encontro em lugar nenhum.