Não quero mais habitar em meus versos.
Algo em mim há de mudar.
Não quero revisitar estas imagens rotas
formando um mosaico impreciso de mim.
Minhas palavras são afetadas e tortas.
Eu quero colorir além das linhas.
Faltou-me o papel e por isso escrevi em pele.
Faltou-me a tinta e por isso escrevi com sangue.
Eu estou do avesso agora.
Uma criatura transparente.
Não quero mais habitar nos meus versos,
tampouco quero ler as rimas fáceis
ou aconchegar-me em palavras doces.
Quero resgatar o inominável, o difuso e o perene,
dar-lhes forma, algo mais que o vácuo,
capturar o trovão como somente o ferro faz.
Meus olhos se aleitam como um oráculo.
Eu vejo terras e povos distantes.
Paisagens longínquas visitadas por meus pés.
Céus sangrando impossíveis cores.
Afeto benfazendo os dias,
mas meus lábios permanecem suturados,
minha pena não se endireita.
Eu ando por entre ruas que não me pertencem mais.
Eu escrevo meu nome nas paredes,
Talho-o em todas as portas.
Sussurro-o aos quatro cantos,
mas não consigo encontrar-me.
Não sei se padeço de um fazer poético
ou apenas uma isquemia.
terça-feira, 8 de outubro de 2024
Coágulos
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