O tempo naufraga até mesmo um sertão,
Enferruja o arado e entorta o perdão.
Quantos mais eu hei de enterrar?
Os olhos ardem, queima a plantação.
são tantas bocas para prover o pão.
Quantos mais eu hei de enterrar?
Eu ouço tiros.
Eu sou o alvo.
Cheguei perto demais
do Ribeirão.
Chora, meu córrego,
limpa o meu nome.
Por que é tão difícil morrer?
As mãos de meu filho estão sujas de sangue.
As mãos de meu filho estão sujas de sangue,
mas eu não posso parar ...
---
A minha terra tem partes de mim
Espalhadas do começo ao fim.
Quantos mais eu hei de chorar?
Cruzes na estrada, flores ao portão.
Alguns logo chegam e logo se vão.
Quantos mais eu hei de chorar?
Ainda estou vivo
Mas só em parte
Algo em mim
Eu sei se perdeu.
Chora, meu filho,
a dor do seu nome.
Por que é tão difícil viver?
As mãos de seu filho estarão sujas de sangue.
As mãos de seu filho estarão sujas de sangue,
E não há nada que eu possa fazer ...
---
Cacos e pedras são o que me restou,
Faces tão cavas ornadas de dor.
Outra estrela eu hei de contar.
Tão pouco é dado, tão parco o quinhão,
Mesmo tão perto do Ribeirão.
Outra estrela eu hei de virar.
Está tudo calmo,
Uma noite clara.
Minha força se esvai
Com o Ribeirão.
Chora, meu córrego,
Apaga o meu nome
me leve pra longe daqui.
As mãos de meu pai limpam minhas mãos de sangue.
As mãos de meu pai limpam minhas mãos de sangue
E agora eu posso parar...
---
Eu vejo começos
Suturando os talhos em mim.
Meu sangue é forte.
Ainda estamos tão longe do fim.
Um rio permeia
Meus filhos e minhas veias.
Muito além do Ribeirão
Aqui estou e aqui também estão.
Tudo flui.
Tudo muda,
Só eu mesmo que não.