quarta-feira, 6 de março de 2024

Leitmotif


A luz do Sol nascente,
Pelo vidro e pelo trinco filtrada,
Incide doentia,
Quase monocromática.

Sombras demasiadamente oblíquas
Agora deitam-se sobre os móveis.
Filetes d'água viram rios nas paredes
E em mim.

Nietzsche estava certo
Sobre o Eterno Retorno.
Vivemos nossas vidas
Como pequenas variações
Sobre um cansado tema,
Trilhando os mesmos sulcos
Formados por nossos pés
Ora relutantes, ora resignados.
Nunca aprenderíamos nada
Ou assim preferimos pensar.

O que mais há além disso?
Além dessas paredes
De concreto ou pele
Erigidas para nos proteger
Da erosão dos dias,
Dos cortes pelos
Ponteiros causados,
De nossas trajetórias tão desalinhadas
Pelo amargo láudano do lembrar.

O que mais há além disso?
O estrondo do trovão.
O relâmpago rasgando os céus
Para no chão encontrar morada.
O vento destruindo velhas barreiras.
Os mares tomando de volta suas costas.
Pedras quebrando janelas.
Mãos sangrando em meio aos cacos.
Notas claras encerrando óperas de silêncio.

O que mais haveria além do aqui?

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