quinta-feira, 27 de junho de 2024

Talvez Belo

 

O quadro pende no corredor escuro
Onde poucos transeuntes passam,
Uma decoração sem importância
Para preencher um vazio
Ou mesmo esconder
Alguns fios e falhas.

Sua moldura modesta está gasta
E partindo nas beiradas
Como se rugas fossem
Estampando o puir do tempo
Ao observador incauto.

O vidro acumula poeira
Como se uma névoa se interpusesse
Entre a obra e o mundo,
Cataratas tornando os dias
Leitosos e oblíquos.

A luz difusa revela somente
Vultos e contornos de algo talvez belo,
Uma obra talvez prima
Esquecida entre a monotonia
Do ranger de portas,
Do tocar de telefones,
Das conversas banais
Dos corredores
Dos escritórios
Nos prédios
Dos centros
Das cidades
Onde todos
Estão ocupados demais
Para poderem notar.

Ainda não pude discernir
Em que lado do vidro estamos.

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