Com sons e chamas,
Com cheiros e cores
Que atropelam os sentidos
Dando passagem para o sagrado
Por entre as frestas da razão.
Ritmos e vozes que se repetem.
Ritmos e vozes que se alternam.
Em círculos e ciclos,
Em mesas e altares,
Vozes altas indistintas
Cadenciando um algo que não se vê.
Todos os pés estão descalços.
Todos os corpos vestem branco.
As crianças correm pelos cantos
Ansiando os doces que ainda virão.
O sangue é derramado discreta e respeitosamente.
Eu sou um estranho aqui
Observando outros se entregarem ao sagrado,
Libertando-se do peso de suas próprias volições.
Há risos e choros aqui.
Tudo é um palco para os fiéis
Que tão fluidamente transitam
Entre o espetáculo e a plateia.
Eu vejo o apelo nos cheiros e nos rostos,
nos nomes e nos outros nomes,
Em toda a dimensão oculta da coisa,
Mas esse não é o meu lugar.
Aqui é onde você decidiu estar
Em meio ao fascínio
Quando tudo que tenho é o silêncio.
Tu tomas o Sol e a Água como padrinhos
Em um mundo de magia e respostas e soluções.
Vejo-te rescindir o teu primeiro batismo
Quando não haviam deuses ou mistérios,
Apenas compromissos e sentimentos.
Como poderia eu competir com tudo isso?
Seu rosto iluminous-se
Enquanto sussurravam-lhe sob a tenda os nomes,
Aspergida pela água e envolta pela fumaça,
Solene foi a presença d'Os que não podiam ser vistos.
Eu observei tudo de perto.
Eu não tinha mais lugar.
Quando virou-se e sorriu dizendo
"Ele é o meu padrinho"
Eu sabia que este seria
O último lampejo de graça
Antes que as portas do terreiro
fechassem-se entre nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário