quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Ariadne


I wish things played out differently.
That I was not encumbered by the burden of being
Ever slightly out of step or reach
Like a creature nearly caught between headlights
In the staleness of a dull night.

Where would I start starting something new?
I have pulled all the threads
And undone all the knots
And I am still here
Within this maze,
Caressing walls
As if they were skin.

I am lost within the topology of wanting.

On glass shards walking.
Only half measures taken.
Wading into the darkness of remembering
To gaze gently inside
The dreams that another dreamer dreamt.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

O Caixeiro Viajante


O que se esconde por detrás das portas
Nestes corredores longos e cinzentos?
As maçanetas giram sem cederem.
Falta-me algum tipo de chave
Perdida em um molho entre outras mil
Em algum bolso de uma calça que não uso mais.

Eu bato nas portas mas ninguém atende.
Devo ter tornado-me um vendedor de enciclopédias,
Anacrônico e indesejado.

Como uma Barsa,
Eu me pergunto o que contenho
Na finitude de minhas páginas.
Uma minúcia de detalhes irrelevantes
Tão indigna de uma leitura casual.

Sou mais denso do que gostaria de ser.
Falta-me a leveza melíflua das palavras
Que escorrem dos lábios como beijos.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Társis


Eu lanço uma vez mais minha rede ao mar
E a recolho depois de uma espera apropriada.
Ela viria vazia como vazia veio
Em todas as vezes passadas.
Sangram minha mãos expectantes
Pelo sal tão fustigadas.

Como poderia eu desistir
Se essa prenha espera
É tudo o que tenho?

Algo haveria de vir
Singrar essas águas
E ressignificar a rede,
Os seus nós trôpegos,
Sua extensão risível
Ansiando apreender um algo
Que decerto não viria.

Eu me jogo e me recolho
Sem nada capturar.
Tudo por mim passa indiferente
Sem nada capturar.

As marés já não me preenchem.
A circularidade em mim cessou.
Estou preso na vazante
Em que um menino se afogou.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Peritônio

 

A tinta acabou.
As palavras se exauriam por entre meus dedos
Deixando-me mais vazio do que pudera imaginar.

O abcesso foi perfurando pela pena
Trazendo fim ao delicado dilema
De palavras purulentas sobriamente exumar.

Constrangido, contemplo estas poluções verbais
Brotarem dos recantos recônditos e banais
Que somente o trauma ou a experiência
Podem desnudadamente contemplar.

De destroços a via é feita
Até as súbitas fronteiras do chegar.
Sulcando o meu chão e peito
Para que meus sentimentos imperfeitos
Possam, desajeitadamente, neles habitar.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Batismo


Com sons e chamas,
Com cheiros e cores
Que atropelam os sentidos
Dando passagem para o sagrado
Por entre as frestas da razão.

Ritmos e vozes que se repetem.
Ritmos e vozes que se alternam.
Em círculos e ciclos,
Em mesas e altares,
Vozes altas indistintas
Cadenciando um algo que não se vê.

Todos os pés estão descalços.
Todos os corpos vestem branco.
As crianças correm pelos cantos
Ansiando os doces que ainda virão.
O sangue é derramado discreta e respeitosamente.

Eu sou um estranho aqui
Observando outros se entregarem ao sagrado,
Libertando-se do peso de suas próprias volições.
Há risos e choros aqui.
Tudo é um palco para os fiéis
Que tão fluidamente transitam
Entre o espetáculo e a plateia.

Eu vejo o apelo nos cheiros e nos rostos,
nos nomes e nos outros nomes,
Em toda a dimensão oculta da coisa,
Mas esse não é o meu lugar.

Aqui é onde você decidiu estar
Em meio ao fascínio
Quando tudo que tenho é o silêncio.
Tu tomas o Sol e a Água como padrinhos
Em um mundo de magia e respostas e soluções.
Vejo-te rescindir o teu primeiro batismo
Quando não haviam deuses ou mistérios,
Apenas compromissos e sentimentos.
Como poderia eu competir com tudo isso?

Seu rosto iluminous-se
Enquanto sussurravam-lhe sob a tenda os nomes,
Aspergida pela água e envolta pela fumaça,
Solene foi a presença d'Os que não podiam ser vistos.

Eu observei tudo de perto.
Eu não tinha mais lugar.
Quando virou-se e sorriu dizendo
"Ele é o meu padrinho"
Eu sabia que este seria
O último lampejo de graça
Antes que as portas do terreiro
fechassem-se entre nós.

sábado, 11 de novembro de 2023

TCC

 

Tudo começa com a busca,
Ciente da inefabilidade dos fins,
Cônscio da aspereza do caminho.

Tópicos e temas que se intercosteiam
Como o líquido mercúrio dos filósofos
Carentemente anseando o rigor da forma.

Tão mergulhado em asserções e referências,
Como Sísifo empurrando a pedra,
Como Atlas suportando escolhas, mas

Tudo termina com uma data,
Com conclusões e resultados
Convidando a aspereza de outros começos.

O resumo se escreve ao fim.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Fragmento de Música

Siga o riso,
Siga o choro,
Siga o rastro da manhã.

Siga o sábio,
Siga o tolo
E me diga se és sã.

Siga o mundo,
Siga o povo
Ou o silêncio da maçã.

Siga tudo,
Siga a todos
E me diga se és sã.

Eu abri as portas,
Eu olhei nos cantos,
Me perdi em seus olhos
E contei os anos.

domingo, 5 de novembro de 2023

Ozymandias


Desprende a sombra,
Fica o verso.
O despir das expectativas
Desanuvia os olhos
E preenche os cantos com vazio.
Uma ilusão pode ser
uma ponte entre os dias,
Mas as vistas claras
Dão a dimensão real da vida.

A pulsão de projetar forma e sentido
Sobre sombras nos torna espectadores
No teatro de kabuki de nossos próprios
Corações e mentes,
Mas as cortinas uma hora se cerram.

Quais são as canções
Que escolhemos cantar para nós mesmos
Quando ninguém nos vê?

"As areias solitárias e planas se espalham para longe"