sexta-feira, 2 de março de 2018

Morais de Carvalho

Os quadros estão cobertos por linho branco e traças.
Os cantos acumulam pó.

As portas e seus ferrolhos antiquados estão fechados.
As janelas não mais rangem ao se abrir.

Fotografias em caixas entulhadas.
Fotografias em paredes penduradas.

Os bibelôs indiferentes à fluidez do tempo
Pontuam a topografia inabitável da saudade.

O silêncio agora saúda as manhãs
Conjurando espectros nos pavilhões do lembrar.

Ecos distantes, abafados pelo desbotar dos dias.
O concreto feito abstrato.

Nomes na parede escritos
e nomes por nova tinta apagados.

Os relógios não podem ouvir nossas súplicas.
Suas engrenagens não caminham para trás.

Dilacerado pelo implacável tempo,
Descompassado pelas longitudes que separam
o recordar do viver.

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