segunda-feira, 30 de abril de 2018

Laticínios Metafísicos

Todas as ruas estão vazias.
A indiferença paira larga sobre nossas portas.
Mil olhos se fecham para que apenas um se abra.
Não há nada mais que a poesia possa dizer
Que nossas orações já não tenham perdido.

Toda nossa raiva se choca
Contra os paredões intransponíveis da esperança,
Mas abaixada a poeira,
Nenhuma pegada sobre a areia.

Insuflados como velas em direções contrárias,
Rumamos ao centro percorrendo perímetros.
Somos roedores dentro de jaulas,
Transfixados pela ideia do queijo
Que intuímos existir além.

Tão carente de por quês,
Desmaterializo-me em meio aos dias.
O meu peito está aberto às vicissitudes do mundo,
porém vazio para os mistérios da vida.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

O Último Barco Para Aman

Como milhares de barcos
Guiados por uma tênue crença,
Nosso diminuto brilho
É por mãos protegido,
Ainda que apequenado,
Dos ventos gélidos da indiferença.

Não ousemos mensurar o céu
Pela dimensão singela de uma única estrela.
Todo o sentido reside no espaço
Que se mutina e se aderna entre nós.

Ainda que estas luzes se apaguem,
As nossas rotas se complementarão.
Mãos que se unem na noite.
Faróis que sinalizam nossa própria amplidão.

Despedimo-nos das silhuetas do mundo,
Para no turbilhão destas águas
Encontramos juntos
Uma única direção.