segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Coletivo

Os ônibus vazios são as nossas catedrais,
baldeando-nos por entre o silêncio das cidades,
levando-nos para tão longe de onde queremos estar.

Semáforos imprimem uma cadência em nossas vidas
como portas de elevadores que tardiamente se fecham
sobre a janela estreita das possibilidades.

Comungamos com a subserviência aos relógios,
com seus braços impossivelmente longos,
com seus perímetros impossivelmente curtos.

As ruas entrecruzam-se sem se tocar.
As avenidas estreitam-se como vielas
atravessando anestesiadamente
a inerte geografia da solidão.

Os espaços entre os transeuntes
já não podem mais me comportar.
Desvio o dia de suas rotas retilíneas.

Eu aceito a minha sobriedade e a minha pequenez,
as diminutas dimensões de mim,
projetadas sobre a urbanicidade dos meios
e toda a humanidade dos fins.

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