quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Jonas



Ninive me conclama sem palavras ou gestos,
somente algum senso de dever e desejo
ardendo como uma chama alta demais,
brilhando como uma estrela fria.
Algo mais imaginado do que concreto.

Eu virei meu rosto para o gélido Oeste
pensando nele encontrar respostas,
mas só deparei-me com areias ermas
que trouxeram-me até o traiçoeiro mar.
Quase nada me restou.
Eu habito toda a extensão de minhas escolhas.

Tudo range e sibila no silêncio dessa nau,
Perseguindo bálsamos no poente,
Trajetórias e vistas demasiadamente claras,
mas tudo sempre se desfaz em vento e vagas.

Engolfado por uma escuridão líquida,
meus sensos se desvanecem dóceis.
Minha pele e meus pêlos molhados.
Sou nutrido e curado como uma criança do abismo
feita inteira na ausência de toda luz.

No terceiro dia eu também retornei,
tendo no silêncio encontrado minha palavra.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Adyta

 

I was the seed within the apple.
From Pandora, the broken seal.
I am the hollowness of the amphora
longing for the boldness of the wine.
I am the voice that holds, in silence,
the fullness of all mornings.

I am no longer sufficient or necessary.
I was scattered in every corner,
I am everywhere,
perhaps in fragments,
but ripe now,
better.

Made of jagged, rounded pieces,
like a stone that's tumbled a river’s length,
like a mountain ground to sand.
I know the heavens also dwell beneath my feet.

I am the tattered, translucent cloth
tied to the barbed wire of days,
thrashing against the wind,
an invisible, unbound fury.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Áditos



Da maçã, eu fui semente.
De Pandora, o violado fecho.
Eu sou o vazio da ânfora
clamando pelo brio do vinho.
A voz que sustenta no silêncio
toda a inteireza das manhãs.

Eu não me basto mais.
Estou em todos os cantos,
Eu estou em todos os lugares,
Em pedaços talvez,
mas maduro,
melhor.

Feito de peças e partes rombudas
como a pedra que rolou toda dimensão do rio,
Como a montanha que puiu-se em areia.
Eu sei que os céus também estão no chão.

Sou o roto e translúcido trapo
amarrado contra o arame farpado dos dias,
debatendo-me violentamente com o vento,
fúria invisível e liberta.