domingo, 28 de abril de 2024

The Azure Roots of Dreaming


With eyes shut tight,
Lost in liquid darkness,
Other worlds unfold in whispers.
I find myself hovering in formless vastness
In the amniotic infinity
Where beginnings dissolve into endings, 
And change pulses through me like a tide.

I can feel something in me changing,
The throes of some uneven death.
I am translucent to the woes of disappointment.
I hear notes reverberating further away
Hinting at some long-lost unity.

My hands extend like invisible capillaries.
I can graze my fingertips on the unknowable,
Tracing the azure roots of dreaming,
The forgotten primal movement
From which spring the ethereal foundations
Of all that is significant and real.

We teem with motives and meanings, 
Bound by the threads of memory's web.
Yet our voices echo only briefly, 
Through the occupied vacuum of space and time. 
Our voices will not be carried forever
Through the interstice of our hours,
By the finitude of our laughter.

Surrounded by dim shadows, 
I once again tread the narrow path of dawn.
Clear-sighted, with a lighter chest.
All psychopomps must return alone.
An origami of light and shadows.

sábado, 27 de abril de 2024

A Raiz Azul dos Sonhos


Com os olhos fechados,
Perdido em escuridão líquida,
Outros mundos em sussurros se descortinam.
Encontro-me pairando em vastidão sem forma
No infinito amniótico
Onde os começos se dissolvem,
Pulsando transformações como marés.

Posso sentir algo em mim mudando,
Os estertores de alguma morte desigual.
Estou translúcido para os dissabores de tudo.
Ouço notas que parecem reverberar mais longe
Sugerindo alguma unidade a muito perdida.

Minhas mãos se estendem como capilares invisíveis.
Posso roçar as pontas dos dedos no incognoscível,
Traçando a raiz azul dos sonhos
No primevo movimento esquecido
De onde brotam os etéreos alicerces
De tudo que é significativo
E de tudo que é real.

Estamos prenhes de motivos e sentidos
Apenas enquanto presos nas teias do lembrar.
Ainda sim, nossas vozes ecoam breves
Por entre este vácuo sideral ocupado
Pelo interstício de nossas horas,
Pela finitude de nossos risos.

Sombras difusas rodeiam-me.
Os olhos abrem-se novamente,
Trilho novamente a estreita rota da manhã.
Vistas claras, peito leve.
Todos os psicopompos precisam retornar sozinhos.
Um origami de luz e sombras.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Apenas alguém


Algo perdura apesar dos anos.
Reenceno os mesmos momentos
Como se uma meditação fosse,
Mas foi eu que fechei as portas
E fui eu que voltei-me para o Oeste.

Lembranças e palavras ainda reverberam
Silentes e solenes, rasgando as pretensões.
Algo belo e importante ficou para trás
E por mais que o mundo gire,
Que os meus pés se despeçam,
Que tenha feito sentido partir,
Algo de mim ficou para trás.

Estou disperso no tempo e no espaço.
Não encontro unidade no sentir.
Por mais que as partes façam sentido,
O todo é estranho e alheio sem você.

Eu privei-me do meu lugar
E agora não sei mais aonde estou.
Espero que os anos tenham lhe sido gentis,
Mais do que eu poderia ser.

Não és estrela idealizada,
Nem dista em horizontes impossíveis.
És algo concreto feito abstrato
E agora lembrado com dor.

Apenas um alguém que um dia conheci.
Apenas um alguém que um dia me conheceu.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Tétis

Os pulmões se reinflam após o interstício do silêncio.
Os alforges finalmente ao chão.

Linho branco recobre os móveis.
A poeira pode sempre ser varrida
e os cacos ainda podem ser colados.

O possível brota timidamente dos cantos.

Calejadas mãos repousam sobre o leme.
A tempestade se cala lá fora.

Por anos navegando uma rota errada
Usando os mapas e os meios
de algum outro alguém.

O oceano é vasto o suficiente para nele se perder
e o oceano é vasto o suficiente para nele se encontrar.

As ondas não dissuadiram Odisseu.

Vazio Celeste

Rompido o fio, desfaz-se a trama,
Uma pluralidade desconexa de pessoas,
Reunidas apenas por uma mesma origem helicoidal.

Sentimo-nos tentados a enaltecer o passado,
ressignificar a inospitalidade do presente,
mas na nua realidade das coisas
houve beleza na mesa posta do café,
nos dedos tão longevamente entrelaçados,
no chá que pontuava as noites.

A horta e as samambaias entreolham-se em silêncio,
Os nossos olhos agora molham os dias.

Albedo

A alteia negra e o rouxinol,
Ambos engolfados pela escuridão,
Ambos indistintos no albedo
que reluta em revelar a luz.

Nos fragmentados arredores
e por desconectados corredores,
aflora o mimetismo incauto
dos espelhos distraídos.
Distorcem a natureza elíptica das coisas.

Eu acredito no nada.
e nas suas convicções estéreis
e nos reduzidos limites do possível.

... mas é a ficção que estrutura a vida,
alinhando trilhos invisíveis em direção ao amanhã.

Ancorado no discernimento,
Um a um os malabares caem ao chão.

Como começar a contar novas estórias
quando todos os nossos livros estão em branco?

Splendor Solis

Os dedos se fecham sobre o arame farpado
Desde a plácida Aurora rubra
Até a inquietude Magenta do Ocaso.

Com as costas dadas para o cálido Sol,
Procuro estrelas na escuridão das sombras.
Eu sou a face tímida da Lua
Contemplando a fecundidade sóbria da Noite.

Os deuses sussurram em nossos ouvidos,
mas não é possível os ouvir por entre as palavras.